sexta-feira, 6 de abril de 2007

material de passado

tem um trabalho muito solitário do escritor, não propriamente o profissional, mas esse escrevinhador que busca demonstrar todas as suas emoções por uma certa biografia ainda que romanceada porque não há nada fora da ficção. é um trabalho muito solitário, um trabalho que toma horas e horas e, muitas vezes ou em sua maioria, é tomado com escárnio por gente mal intencionada. eu fecho o carderno com os olhos ardendo e passo tanto tempo recurvado no teclado no computador que minhas costas ardem. o que recebo em troca, na maioria das vezes, é o desprezo de quem prefere ficar saracotiando de uma festa ou encontro para o outro, pessoas que acreditam que a vida se dá nessas festinhas, nesas caçadas humanas porque é o que acontece. são caçadas humanas, onde alguém tem necessariamente que estar comendo alguém para que se considere uma coisa verdadeira, útil e etc. não creio. posso estar muito errado, claro. talvez os valores devam ser realmente medidos pelo número de fricções da vulva. se for realmente assim, imagino que as prostitutas mais bem sucedidas sejam então as personalidades plenas. claro que nada precisa ser extremado, mas estou impactado pelo que os últimos acontecimentos vêm me mostrando. não tenho a menor dúvida de que tudo isso vai passar e, muito em breve, será um passado triste, mas nunca dolorido.

terça-feira, 27 de março de 2007

domingo, 25 de março de 2007


fico impressionado com o que devo parecer ser. devo parecer ser fácil, ignóbil, pra consumo rápido. é muito engraçado mesmo porque não sou nada disso. nem eu mesmo me tenho e causo a impressão falsa nas pessoas de que poderiam me possuir. eu bem que gostaria de ser de alguém ou que alguém fosse meu, mas isso é o terreno das idéias impossíveis, no terreno da fantasia. não sou de ninguém e ninguém é meu. assim. fico muito impressionado em como isso não é claro, como existe um movimento de enganação de todos para todos, inclusive para o próprio dono da fantasia. percebem em mim, uma pernsona que não é, como se a minha máscara fosse mais falsa, ordinária, como se, olhando minha máscara, de tão vagabunda, não desse para perceber sequer o que ela quer demonstrar. fico pensando como pode ser se nem a máscara representa o que se imagina querer ser representado. minha máscara deve ser um jornal amassado, sem forma e eu acho que é de arlequim ou pierrô ou batmam. digo: ei! sou batmam! e as pessoas: batman? como? onde está o batmam? - a máscara não funciona, é ordinária demais.
isso seria engraçado se não fosse trágico. não mostro quem eu sou, coloco uma máscara e todo mundo ri porque, como na fábula, o rei está nú. (tenho que namorar a humilde servente da pensão onde almoço).
vejo agora nas mensagens não atendidas do meu celular que a Kal me ligou ontem dizendo que estava na lapa e que, portanto, poderíamos nos ver um pouco. Muito engraçado, virei atração turística ou melhor, uma fantasia de que moro no centro do agito e, portanto, seria uma companhia boa para quem vem à Lapa, seria o dono ou o cicerone da Lapa. Quá. afinal, rs, não se vai à roma sem ver o papa.
essas coisas ficam rodando na minha cabeça: porque tenho que ser visto, porque me embriago de manhã, porque sou importante off-agenda, porque escrevo tanta besteira, porque posso seduzir exatamente pela mediocridade, porque não sou paul auster, porque não tenho a sandra bullock, porque me desfiz do meu revólver, porque não me desespero porque o minuto pode ser o último, - num tempo, o minuto será meu último minuto (explicarei melhor), - porque eu chamo e respondo, porque atendo ao telefone, porque sou pai (ausente), porque, porque, porque....

sábado, 24 de março de 2007

o outro

no fundo, eu gostaria muito de proporcionar a mim mesmo uma paz de espírito que permitisse que vida fosse mais simples e boa. ainda acho que a vida pode ser boa se a vivenciamos de maneira simples, percebendo nas pequenas, grandes coisas que nos proporcionam alegria. a alegria, imagino, deve estar bem mais à nossa mão do que parece. fico olhando para o teto e percebendo que a alegria está na possibilidade de um outro. quando eu falei do faroleiro solitário e sua vida isolada e compensada foi uma coisa muito diferente, de uma outra percepção que é a possibilidade de ter alguém. claro que eu não posso construir pensamentos medianos demais, não posso me impedir de pensar e analisar uma coisa por diversos ângulos. isso faz parte da corrente elétrica cerebral. mas o que eu digo agora é uma outra coisa. é a realidade feliz de uma vida a dois, onde duas pessoas entregam suas vidas ao outro e assim, num processo simples de acasalamento (verdadeiro em tudo) tornam-se parte do mundo. ser parte desse mundo que eu penso agora é saber-se cuidado e querido e vice e versa. esse movimento pequeno, que parece simples, ganha vulto porque ao estarmos com uma pessoa, estamos em sintonia com o universo porque a outra pessoa é nosso universo e somos o dela e como essas coisas se misturam, acabamos descobrindo não apenas no outro, mas em nós mesmos a alegria de participar desse mundo habitado por zilhões de pessoas que temos como representação aquela que está ali, ao alcance da mão, no meio da madrugada, quando os corpos se abraçam porque abraçamos a vida, enfim.
eu sei que isso pode parecer, visto sem a devida ternura, uma contradição em mim, no que digo e penso sobre a vida, mas não é. de vez em quando, sozinho e sempre olhando para o teto (rs), eu imagino uma vidinha muito feliz exatamente pela simplicidade da convivência e da aceitação do amor. quanto mais niilista me torno, mais caminho em direção ao amor de todas as formas, principalmente na possibilidade de viver com alguém por amor. sei que soa tolo. eu sou mesmo tolo. mas o que devem ser as pessoas? qual é a possibilidade que se apresenta de passar pela vida e ser feliz se não houver a parceria (detesto esse termo!) com aquela outra que não é mais nem menos, que é a sua amiga que te abraça pra dormir?
pensando melhor, imagino que todo o texto que rola aqui deveria ser mais fortemente grafado para facilitar a quem lê perceber o sentido verdadeiro do que se tenta expressar, porque tudo é um grito no vácuo, mas nem por isso deixa de ser um grito da mesma forma que uma árvore ao cair numa floresta deserta de gente, não deixa de causar estrondo apenas pelo fato de que ninguém ouviu...
tento ficar o mais quieto possível, o mais mergulhado possível para não dar margem à interpretações erradas de modo sobre mim. o certo aliás, seria não escrever ou escrever em cadernos para não deixar vazar nada antes do fim do processo. não estou aqui exatamente pela glória da publicação, mas para dar a oportunidade remota de, sendo descoberto esse espaço, tome-se conhecimento desse lado mais introvertido podendo não comentá-lo, tal como se não existisse. e se ninguém tomar conhecimento é bom também. se fracassei na tenttiva de dormir, o mesmo se deu na tentiva de ler, assistir um filme em dvd ou escrever. nada funcionou. os medicamentos, como se sabe, somente à longo prazo e tenho pressa. portanto, perco essa saída também. depois de um dia inteira sentindo muita fome, juntei forças agora para ir até a padaria comprar pão, enorme sacrifício para saciar o estômago. assim é. o dia é feito da costura de pequenos retalhos disformes, da tentiva de unir pedaços para cumprir a meta de atravessar o convencionado um dia. preciso antes não estar em mim, estar num outro lugar, lutando para encontrar alguma coisa que dê sentido às conclusões que vou chegando e que desabam como paredes de pedra sobre mim. muito desânimo...
este espaço ainda é relativamente protegido. não desconhecido, mas ele não criou hábito porque na verdade ninguém vai ficar procurando aqui e ali, disparando de um link para o outro. não. escolhe-se um ponto para ler besteiras e fica-se ali. resto é festa, é viver a vida, é quando nos soltamos desse compromisso semi-atraente por excêntrico, mas chato, se analisado com um pouco mais de clareza. aqui posso dizer algumas verdades mais objetivas sobre mim sem provocar o sorriso de escárnio que brota sem querer na eventual leitura dessas coisas que digo sempre de uma forma obtusa não por estilo, mas por formação obtusa mesmo. me olho no espelho. estou um lixo. parece que andei sonhando demais e caí no delírio. a volta é sempre muito dura mesmo. fico pensando aqui se não devo mesmo dar uma sumida geral, sair da frente dessas lentes onde criei a persona que, minimamente estranha, é tão falsa como tudo o que faço.
verdade que não estou bem, já reconheci isso antes. verdade que está pesado demais o painel plotado que mostrei insinuando ser eu mesmo. preciso parar. deixar de lado. dar um tempo. fugir. não estou aguentando ficar comigo mesmo. sério. isso é doroso, ruim à beça.

a cama está molhada do meu suor. deitei lá por um tempo apenas querendo dormir para esquecer, mas aconteceu o contrário: tive um pequeno sono entrecortado onde dormi e acordei várias vezes, sempre assustado e certo de que havia outra pessoa na casa. levantei inúmeras vezes para olhar o que eu já sabia: não tinha ninguém. deito novamente com a garganta prendendo uma vontade de chorar, olho o nosferatu clássico passando na televisão e sua figura aumenta a tristeza em mim. durmo mais um pouco e sonho que ela estava aqui, estava ali naquela cama, que tinha vindo apesar de todas as minhas considerações, que estava se deliciando em mim porque hoje é sábado e sábado pode-se tudo já que somente na segunda feira, assumimos o que realmente somos, deixando para trás nossas fraquezas de fim de semana que ninguém imagina. era sonho também. apenas nosferatu é verdade. procuro a geladeira e tomo um litro inteiro de coca cola para refrescar, coca cola que engorda e faz crescer. imediatamente antes de deitar, tive uma forte crise de pânico e felizes são os que já ouviram falar, mas nunca tiveram essas coisas. na crise de pânico vem uma sensação de morte imediata acompanhada de grande angústia, tudo inexplicado mas cercado de convenientes sensações físicas. durmo e acordo com um vento que invade tudo e torço para que já seja domingo. não é. passo no computador e ela está trocando de roupa, vindo de uma e seguindo para outra atividade, desse mundo dela, com agenda apertada que solidifica tudo o que penso, que me mostra como é a vida dessas pessoas tão distantes de mim. a vida dos reis, rainhas, bispos e peões. que coisa triste meu deus! como eu sou patético em fingir para mim mesmo que sou uma coisa que não sou, em descrever uma vida usando de uma certa fantasia, de uma literatura barata em essência, narrativa glamourosa de uma vida madíocre que, se seguida por esses sítios, dão a entender o que não são. sou não um escritor. somente um mentiroso.

muitas vezes, o tédio da vida amesquinha-se numa crise de depressão minimalista. o que sinto agora é todo o desconforto do mundo, toda a incapacidade de seguir em frente, de dar um passo a mais. como pessoa, não sou nada, não quero nada. quero o amanhã.
sinto-me despido, fraco, feio e inútil. ela me esmaga com sua totalidade. não me importa se, na calada da noite e no silêncio do quarto, sinta isso ou aquilo muito freqüentemente por mim. não me dá alento e sim desespero. quanto mais penso, mais sinto-me afastado exatamente pelo que ela é e eu não sou. talvez ela perceba esse jogo, essa dança entre mascarados. acho que percebe, mas é inconsciente e jamais concordará com isso. dirá sempre que não, que é um ser humano como qualquer outro e que prefere a minha companhia à de qualquer outra coisa. acredito que isso venha da verdade do engano. do auto-engano. ela se engana ao achar que deseja a mim mais do que deseja-se, a si mesma. ela deseja a si mesma e sou um desses objetos que poderiam, eventualmente, gerar algum tipo de prazer, desses bem cotidianos, ordinários. como um orgasmo ou o ato de urinar (que são a mesma coisa). de um ponto vista menos racionalizado, podemos dizer que somos todos iguais e que podemos desejar sim ao outro, o que não é verdade. o que acontece é o que eu já falei: nos utilizamos de objetos e ferramentas na vida para cumprirem um determinado papel básico, simples, desvalorizado. na maioria das vezes, fantasiamos essa relação, percebendo nela um encontro e um sentimento que, de fato, não existem. não existe nada num mundo em que as pessoas são independentes. só pode existir uma relação um pouco mais próxima quando, dentro das mesmas castas, um fica dependente do outro, um alimenta o outro e sem o outro, morre. somente assim. fora disso é tudo bobagem, tudo delírio quase alegórico de um sentimento que não existe pelo simples fato de que não poderia mesmo existir porque, estando cada um numa ponta do tabuleiro vida, o que fazem é olhar à distância e imaginar como seria se estivesse do outro lado. nada mais do que isso. claro que a rainha pode valer-se de um ou dez peões para satisfazer-se eliminando o adversário (ou seja lá a alegoria que se deseje nominar essa farsa). mas no fundo é isso: trata-se de uma rainha e um peão, elementos que não se misturam porque são diferentes não só em formato e tamanho, mas principalmente, pelo valor que agregam (e cada um sabe muito bem de si). pode-se concluir num choro reprimido, que às rainhas estão destinados apenas os reis (ainda que não aconteça o encontro ou a união), jamais os peões. isso tudo me traz uma dor enorme, uma vontade de não perceber, de estar em outro lugar, de ser outra pessoa, de qualquer coisa que possa aliviar esse sofrimento que me sufoca e oprime. mas nenhuma cachaça, nenhum tranquilizante ou remédio que recomponha a serotonina será forte o bastante para suplantar a verdade da vida, da questão de método, do fiorde que separa uns e outros, sempre, cada vez mais como objetos que se cruzaram no espaço e seguem, pela inércia, suas trajetórias infinitas em direões opostas. em contraposição a isso eu grito, grito desesperadamente esse grito surdo, interno, que me dilacera, me joga na cama e me faz concentrar-me em manter a mente (dopada ou não) alerta para que minha condição humana não seja jamais perdida de vista.

sexta-feira, 23 de março de 2007


o que me move e não é, definitivamente, entendido pelas pessoas, é a necessidade presente, persistente, frenética perseguida obstinadamente de não deixar flancos no meu pensamento. tava falando disso no Confissões agora mesmo e, ao acabar de escrever um pensamento que se tornou longo e tortuoso, percebi que ele não se basatava, que ele era na verdade, a intrudução para uma racionalização maior sobre as coisas que me dão prazer e que me aterrorizam, as que me emocionam e as que me apavoram. porque todas as coisas são assim, não acontece nada na minha cabeça de uma forma leve e medianamente definitiva. jamais. uma coisa está sempre puxando a outra (talvez mormente impulsionada pelo pavor), mas que não perde sua veracidade pela sua simples possibilidade de existir já que foi pensada. nada é. nada termina. nada traz paz. nada relaxa. nada acalma. nada solta o riso. é a imagem de uma super locomotiva que trás à reboque um número incontável, acho mesmo que infinito, de vagões. estes de formas, pesos e tamanhos variados, com cargas distintas, que não se complementam, estanques. esses vagões, por sua vez, provovem a necessidade de que sejam amplicados para cima, um pensamento em cima de outro, fazendo com o que era originariamente um simples vagão, torne-se um vagão arranha-céu. e assim indefinidamente porque, enquanto vive, a meu ver, o homem tem que explorar, não apenas cidades e países, mas, antes a si mesmo e ao que está fazendo e dizendo e o porquê dessas falas e as conseqüências de tudo o que elas representam não para os outros que, periféricos, não estão no âmago da cabeça, mas em mim mesmo que trago em mim o cérebro ainda intelectualmente ativo e, portanto, inconsistente e em processo. essa visão que pode parecer enlouquecida é, ao contrário, a necessidade de, por suas constantes transformações e circunvoluções, a tentativa de uma corrida frenética contra a inexorabilidade do tempo que insiste em despistar o vácuo de raciocínio lógico que cada pensamento traz em si. diria ainda da biblioteca, ou melhor, da enciclopédia que vai sendo escrita e colocada na estante enfileirada e cria a necessidade de que se construam novas estantes para acomodar os novos tomos a um ponto em que quase não percebemos se estamos escrevendo estantes ou construindo tomos porque tudo é a mesma coisa, nomenclatura é o de menos. por isso o blog pode ser uma ferramenta opcional. não porque veja nada glamouroso nele, mas porque é uma lista que se desdobra virtualmente que só terminará sua missão quando a invalidez ou a morte der um basta no meu pensamento, tornando-o assim, sempre incompleto. todas as vidas vividas, são a constatação mais do que óbvia do fracasso humano em construir um pensamento que se conclua.

quarta-feira, 21 de março de 2007

tudo o que escrevi hoje, foi salvo como arquivo. não falei nada. não quero dizer nada. estou muito cansado, demais. acho que foi muito tempo querendo justificar o que eu não tenho que justificar. não tenho mesmo. hoje, em silêncio dei o verdadeiro grito.

segunda-feira, 19 de março de 2007

fim dos assos sessenta, início dos setenta, não teve aquele livro que todo mundo tinha que ler? O Grito Primal?

domingo, 18 de março de 2007

sinto simpatia por esse lugar. principalmente porque ninguém conhece e provavelmente não conhecerá. não que eu vá dizer mal especificamente de alguém (prefiro falar mal nos sítios conhecidos), mas porque aqui eu posso fazer livremente o que disfarcei toda a vida: gritar!

25/52

ela fantasia com a gravidez. eu não. trato a gravidez com a seriedade que um homem da minha idade deve tratar esse assunto. ora quero ser pai mais uma vez, ora não. não sei qual o meu lado mais racional trata do sim e do não. por fim, concluo que vencerá a não paternidade por um motivo óbvio: não tenho dinheiro.

quando eu tive o meu primeiro filho eu também não tinha dinheiro, mas tinha 25 anos e a vida era feita de futuros. agora, aos 52, ela é feita de passados. não seria justo eu deixar mais um pobre no mundo. a inversão de números 25/52 é a medida exata do que diferencia duas pessoas que habitaram um mesmo corpo.

gato

passar um dia sem fazer nada é uma afronta à vida. é deixar a morte se aproximar sem ter feito nada. quando o tempo estiver contado e a data do fim, anunciada, vou me dessperar em pensar nos dias que não fiz nada. meu gato me olha profundamente, como a aprovar o que acabei de escrever. mas ele também não fez nada! ele nunca faz nada! e nem por isso vai sofrer próximo do fim porque não saberá que está próximo do fim. conclusão: não quero mais ser eu, quero ser meu gato.
Pronto. Nasce mais um grito desesperado